segunda-feira, 12 de maio de 2008

A Máfia Gospel, a Lavagem Cerebral de B., e outras Ruminâncias



Sábado à tarde. Ensaio dos Mortos?. Tentando fugir do marasmo e conseqüente morte existencial, nossos anti-heróis se embrenham no coração de uma das praças da cidade, a Praça Carlos Gomes.

Poucas pessoas passeavam pela praça, repleta de árvores gigantescas, centenárias. Enquanto tentávamos decidir qual o melhor lugar para tocar, uma estranha aproxima-se. Um ponto de interrogação familiar flutua sobre sua cabeça. "Vai ter música? Vocês vão tocar, é?". "É. Vamos.". "Ai gente, então vou pra casa tomar banho e já volto."

A-do-ro.

Escolhemos montar nosso palco imáginário embaixo da maior árvore. Enquanto plugávamos fios embaraçados e ligávamos nosso amp-móvel Frahn 500 com bateria embutida (geralmente utilizado por crentes para cultos em praças como essa), um sorveteiro aproximou-se. Há quanto tempo não via um sorveteiro de tão perto... O último que havia visto foi um tiozinho que passava todas as tardes pelo meu bairro e tinha fama de pedófilo. Bom. Voltemos aos Mortos?.

Começa o show. Quer dizer, o ensaio. Quer dizer, o show. Ah, quem ia saber que era ensaio?

Puxei canções não tocadas há algum tempo, "O Que Eu Sou", "Perspectiva de Vida", "Na Hora" (que ganhou um verso extra em homenagem ao caso Isabella), "Torcicolo", "Cachorro do Povo", e "Doente", entre outras.

Todo tipo de gente passava pela gente. Casais de velhinhos, de lésbicas, pastores nas horas de folga, 1 casal de viadinhos, adolescentes perdidos por aí sem nada pra fazer, casais passeando com os filhos, etc etc etc. Alguns se instalavam em bancos próximos ou se congelavam por alguns momentos diante de nós com aquele já conhecido ponto de interrogação entre as orelhas. Os bêbados, como sempre, alinharam-se com R., reforçando a "cozinha" com instrumentos de percussão e guitarras invisíveis. E macacos me mordam se eles não reforçaram a banda no refrão de várias músicas.

Pontos altos: O sorveteiro aplaudindo, "recramano" que tinha que ir embora. Os bêbados cantando. As crianças também. As lésbicas não, pareciam ocupadas (mas durante beijos apaixonados batiam o pezinho no ritmo que eu vi). Sei lá, não é sempre que você se envolve em uma mesma atividade com velhinhos, crianças, lésbicas, viadinhos e bêbados.

Isso sem falar na máfia envangélica que apareceu sorrateiramente. Quando tomei consciência da situação, B. já estava encurralado por 2 indivíduos de terno evangélico-style, seu olhar dizendo "Socorro Niltão.". Primeiro achei que o cara queria beijar B., porque já tava quase beijando mesmo, mas então consegui discernir as palavras ditas em voz baixa, traficante-style: Vocês...vocês tocam rock gospel? Qualquer coisa gospel?". "Nens.", respondemos. "Ah tá. É que tamo precisano ali na igreja, ó...

Olhei na direção em que apontava e dei de cara com o ex-cinema pornô transformado em um templo evangélico. Olhei rapidamente para B. e R., gritei "1, 2, 3!!!", puxando a histórica "Se Jesus Voltar", uma canção que é praticamente um repelente contra fanáticos e afins. "Se Jesus Voltar" foi composta em homenagem às testemunhas de Jeová que me perseguiram durante um tempo, chegando a invadir meu quarto (o meu quarto, onde eu durmo, dentro da minha casa) às 7:00 em um domingo de manhã. Ach.

Subi no banco, pulei, corri, dancei, me imaginei num palco gigante tocando pra 60.000 pessoas. Tocamos alguns clássicos também: "Shopping Não", "Buraco", "Ressaca" (os bêbados puxando o refrão), e "Merda" (os velhinhos adoraram). Suei. Berrei. Fiz careta. A-do-ro. Naquele momento eu era um Rock Star, baby. Ou você não sabia que o Rock´n´Roll exorciza qualquer vestígio de inexistência? Um dia você devia experimentar também.

Encerramos o show, quer dizer, o ensaio, quer dizer, o show!, com "Moringa", um novo hit dos Mortos?! No vídeo deu pra capturar algumas poucas imagens dos poucos seres humanos que nos acompanhavam. Crianças, seus pais, e o pastor evangélico cantando o refrão.

* Não perca no final do vídeo a incrível performance de lavagem cerebral que tornou B. uma celebridade entre as tribos amazônicas. Essa performance de B. irá mudar a sua vida, o seu jeito de olhar para a realidade. Não perca! No final do vídeo! B. aprendeu esse ritual com seu mestre Shamânico Zugazambuiatanga durante a sua pesquisa de mestrado em cima de uma árvore na Amazônia.

Bom, esse foi mais um encontro dos nossos anti-heróis com ocasionais crises da Síndrome de Peter Parker...beeeejo tchau!

M?

4 comentários:

Maria Paula . disse...

adorei o evangelico-style

3rd World Dude disse...

a máfia evangélica tem conexões com a M?C

Carlos disse...

não não, a confecção mortos? é feita de ternos subreligiosos. Aquiloutro é certeza de uma outra marca. Acho que o "além" deles é bem diferente do nosso. e isso já se pode ver no nosso ultraje...

Anônimo disse...

Adorei a participação da M?C animando e exorcizando de uma forma mto mais criativa os sem-destino que passavam pela Carlos Gomes sábado à tarde. Tb gostaria de deixar registrdo meu protesto contra a Saga Negra de nossos (um dia!!!) ótimos cinemas do centro. A transformação desses cinemas em cine-puteiros (perdão pelo port. claro) e depois em Imobiliárias Gospel (afinal eles estão sempre prontos a garantir a vc um lotinho ao lado Dele!!!). Pq cine só em shopping? Pq footing só em shopping? Pq compras só em shopping? Não caros amigos nossa cidade precisa de vida!!! Nossa urbs nasceu pelo centro e não pode se desfazer a partir dele. portando...SHOPPING NÃO!!!