segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Engenharia, Latinhas Furadas, e a Vida


Meu pai: engenheiro bem sucedido. Eu: louco.

Em decorrência de diferenças iguais ou maiores a essa, nunca conseguimos nos dar muito bem até pouco tempo atrás. Lembro que quando me perguntavam o que eu ia prestar na faculdade, tava na ponta da língua?: qualquer coisa menos engenharia. Orgulho do papai.

Hoje morremos de rir do mundo tomando uma cerva todo final de semana. Meu pai às vezes conta o mesmo causo algumas dezenas de vezes, mas o de anteontem foi inédito. Era sobre um certo equipamento (algum tipo de bomba, sei lá) em alguma refinaria que não tava funcionando bem, tava fazendo um barulho do caralho. O cara que era responsável tinha viajado e trancado todos os materiais numa gaveta. E lá foi meu pai tentar resolver o problema.

"Não tem nada melhor do que problemas. Sempre aparece um novo. Você vai lá e tenta resolver. Quebra a cabeça. Acha que não vai dar. Quer bater em alguém. Mas quando acha a solução a vida faz um pouco mais de sentido."

Nesse mesmo momento tive vários insights sobre engenharia, relacionamentos, e a vida. Acho que finalmente entendi inclusive porque meus pais estão juntos até hoje. Pim.

"Sempre me dei bem na Petrobrás porque resolvia qualquer tipo de problemas, filho. Já até construí uma bomba de gasolina com uma latinha furada e um pedaço de mangueira velha colados em cima do carro quando o carro do meu chefe quebrou no meio do sertão nordestino. No caso da bomba hidráulica do filha da puta que tinha trancado os manuais na gaveta, o problema não era na bomba, como todo mundo pensava, mas no tipo de gás que estava sendo usado na calibração."

"Pra ser bom em resolver problemas, você não pode ficar no bolo. Não pode ser mais um jegue. Tem que fugir do bolo. Ficar longe do gado. Procurar outro ângulo. Observar o todo ao invés da peça."

Esse era o cara que que eu menos queria ser na vida. Mas depois de 78 anos algo mudou nele.

De repente, através da janela atrás do meu pai, um reflexo nas nuvens me chamou a atenção. O sinal M? era projetado mais uma vez no céu de Campinas City. A população estava em perigo novamente. O Terrível Tédio Existencial devorava cérebros vivos em questão de segundos na Rede Globo. Mensagem ultra-secreta urgente da Mortos?WaterhouseCoopers.

M?C para Mr. Hollywood...M?C para Mr. Hollywood...repetindo mensagem...

Fuja do bolo. Fique longe do gado. Procure outro ângulo.

E dá um gole dessa Bohemia Oaken. Câmbio desligo.

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